Tuesday, November 13, 2012

Nova York Vermelha

Fonte: www.kgbbar.com
Aqui nos Estados Unidos as eleições acontecerão no dia 06 de Novembro, e o rali entre republicanos e democratas fica cada vez mais acirrado. A mídia televisionada americana garimpa meticulosamente cada palavra, cada ato, cada opinião e, de acordo com a orientação política de suas redes, difamam ou veneram Mitt Romney, candidato representante do partido republicano e Barack Obama, representante do partido democrata. Eu não voto por aqui e confesso que não conheço muito a política nacional. Mas eu lembro bem que quando me mudei para cá em 2009, estava feliz e aliviada por vir morar em um país administrado por um democrata, ou melhor, o democrata: Barack Obama. Como estrangeira, me preocupo com a possibilidade de estar nesse país sob uma administração republicana. E essa preocupação é amplificada quando, por descuido, me pego hipnotizada vendo os discursos do Mitt Romney ou qualquer outro candidato republicano. É quase o mesmo prazer culposo que sinto ao assistir um reality show de baixo nível daqui, eu sei que eu nunca vou ter aqueles minutos de volta, mas não consigo mudar de canal mediante tanta insanidade.

Amigos no Mehanata Bulgarian Bar. Foto: Lionel Cazaubon


O que mais me deixa perplexa quando assisto os republicanos e seus discursos megalomaníacos, incoerentes e com um quê de supremacia que beira o incômodo, é o momento em que eles começam a acusar o Obama de ser um socialista. Nas eleições americanas, chamar alguém de socialista parece ser uma acusação tão séria quanto uma de corrupção ou de envolvimento em escândalo sexual. Diversos candidatos republicanos acusam o atual presidente e sua brilhante tentativa de reformar o setor de saúde nacional através do informalmente conhecido Obamacare, como um golpe socialista contra tudo que a América liberal significa. O sistema de saúde americano é privado e o aumento dos preços das coberturas de seguros de saúde não são regulamentados pelo governo, além disso, as seguradoras de saúde americanas podem negar cobertura a qualquer cidadão que tenha uma "condição pré-existente" de saúde, ou seja, as empresas aqui se dão o direito de decidir se um tratamento será caro demais e cancelar a cobertura de seguro do cidadão. O Obamacare considera ilegal que empresas de seguros neguem-se a prover cobertura para qualquer pessoa que tenha condições pre-existentes, esteja ela empregada ou não, e considera obrigatório que todos os Americanos tenham seguro saúde. Isso ajudaria a baixar os altíssimos preços estabelecidos pelas seguradoras privadas além de ajudar a desinchar o Medicaid (o seguro público de saúde que o governo paga para Americanos de baixa renda). Os republicanos ficam enfurecidos porque eles não acham que o governo deve travar uma briga com empresas privadas, que isso é um negócio e as seguradoras devem ser livres para regulamentar e cobrar como quiserem, afinal, estamos na terra da "liberdade". 

KGB Bar. Foto: Nina Raquel
O obamacare possui a essência do lado bom do socialismo, já que visa tirar o lucro exacerbado aos custos da saúde da população e tentar fazer com que o acesso à saúde no país não seja um negócio, e sim o que deve ser por definição: um direito humano. Eu não entendo como acusar alguém de socialista por ter uma intenção como essa se torna um insulto nesse país. Aqui, na terra do sonho americano, é cada um por si, e parece ser pecado achar que todos têm os mesmos direitos quando isso implica em incomodar corporações que tratam vidas como moeda de troca. 

Em homenagem ao "Obama Socialista" como dizem os republicanos, e em quem eu votaria se pudesse, eu decidi buscar os resquícios da cortina de ferro por Nova York, e me surpreendi com a influência, a originalidade e a beleza dessas comunidades nessa cidade, a capital do consumismo, do liberalismo e onde, para minha alegria, há sempre uma oposição para tudo. Uma cidade que promove o diálogo e a tolerância e que recebe e acolhe até aqueles que já foram a maior "ameaça" ao sonho liberal. 

KGB Bar. Foto: Nina Raquel
Um dos meus lugares favoritos da Nova York Vermelha se chama bar KGB, um barzinho despretensioso no East Village para amantes da literatura, música e simpatizantes das idéias do movimento socialista. Lá, artistas conhecidos e desconhecidos se reúnem em clima de QG camuflado para recitar poesias, ler manifestos, contar estórias, cantar, dançar ou simplesmente trocar uma idéia politizada (ou não) com alguém. www.kgbbar.com

Certas partes do East Village possuem uma forte influência de comunidades ucranianas e polonesas, com diversos restaurantes, bares e associações desses países. Um dos meus favoritos do bairro é o Veselka, restaurante 
famoso por servir o tradicional borsch, uma sopa de beterraba famosa por todo o Leste Europeu. O local foi inaugurado em 1954, é aberto 24 horas e vale a pena ser visitado pela decoração, pela localização e pela oportunidade de se conhecer e se surpreender com as delícias da cultura culinária de uma região que não é muito reconhecida por isso. 

Restaurant Veselka. Foto: Nina Raquel 
Umas das maiores comunidades polonesas é localizada no bairro ao lado de onde eu moro, em Greenpoint. É impressionante caminhar pelas ruas e ver mercados, farmácias, padarias com tudo escrito em polonês. É fantástico como Nova York consegue nos transportar para outros países de um bairro para outro. Mais impressionante ainda é a Little Odessa, uma imensa comunidade ucraniana/russa localizada em Coney Island, também no Brooklyn. O bairro é mencionado no filme Senhor das Armas, como local onde o personagem principal e seu irmão cresceram. Mas a influência do Leste Europeu e da boêmia dos Bálcãs está pincelada em vermelho por toda Manhattan, a prova disso é o famoso bar búlgaro Mehanata, uma casa noturna com música cigana tradicional, bandas de gypsy-punk e um porão com uma discoteca siberiana e um "ice cage" ou jaula de gelo, onde qualquer um que esteja disposto a pagar 20 dólares, terá direito a dois minutos trancados em um refrigerador com temperatura abaixo de zero, vestido com um uniforme militar soviético e com dezenas de garrafas de vodka do mundo inteiro e um copo. A noite pode acabar mais cedo para quem não tem resistência leste-européia para o álcool, mas para os que honram seus uniformes temporários, a diversão é garantida. www.mehanata.com

Fonte: www.russianteamroomnyc.com 
Nova York presta continência à grande mãe Rússia com o famoso Russian Tea Room ou salão de chá russo, um restaurante e salão de chá super sofisticados que beiram o kitsch com toda a ostentação de ouro, veludo, esculturas de gelo e, acima de tudo, muita vodka. O lugar é lindo dentro da sua proposta. Um pouco mais recatado e mais focado no bom gosto, mas igualmente impressionate, é o restaurante russo Mari Vanna. O restaurante te dá a impressão de estar visitando a casa de uma avó russa. A comida, o clima acolhedor e a apresentação são impecáveis. Para mais informações: www.russiantearoomnyc.comwww.marivanna.ru/ny/

Restaurant Mari Vanna. Foto: Neil Vissink
Como Brasiliense, não há como não identificar um quê soviético nos concretos e nas estruturas da nossa Capital, seja na propagação dos blocos igualitários, nas super-quadras padronizadas, tudo setorial, tudo uniformizado. Niemeyer, o arquiteto dos nossos edifícios, foi afiliado do Partido Comunista Brasileiro, de onde se tornou presidente em 1992. Aqui em Nova York, sua inclinação política está eternizada do prédio da sede das Nações Unidas, que ele ajudou a desenvolver juntamente com o arquiteto francês Le Corbusier. Buscando a relação entre Brasília e revolução, me deparei com um vídeo genial dos amigos Thiago de Castro, Fred Macedo e André Catuaba, pessoal do Qualquer Cinema, quadro que passava na Revista 100,9 da Cultura FM. Ele produziram um vídeo chamado Cinema e Revolução, uma compilação hiperativa, original e muito interessante da relação entre a sétima arte e a visões da esquerda por diretores mundo afora. Clique abaixo para acessar o vídeo:


Um dos meus ídolos musicais do Leste Europeu é Eugene Hultz, ucraniano de origem que imigrou para os estados unidos e viveu em Nova York, onde formou o grupo Gogol Bordello. A banda tem um estilo único, boêmio, intenso e divertido. Nas músicas, há uma melancolia afogada em vodka de quem deixou o lar para ganhar o mundo, uma vida melhor, ou simplesmente ganhar, seja lá o que for. Uma celebração divertida da cultura cigana, um resgate musical, uma homenagem aos que levam sua casa e suas raízes por onde quer que estejam.  Um dos meus vídeos favoritos da banda, o Wonderlust King, possui cenas gravas na calçada da orla de Coney Island, no Brooklyn, bairro de uma das maiores comunidades do Leste Europeu. Não há como negar que eles sabem se divertir e aproveitar o melhor da vida como poucas outras comunidades sabem, e isso é vindo de uma brasileira. Clique abaixo para acessar o vídeo:


Durante o mês de setembro Nova York é sede do Festival de Cultura Cigana, com música, cinema e dança dos bálcãs. Para mais informações: http://www.nygypsyfest.com/

PS. Agradecimentos à minha querida amiga, Nicole Judd-Bekken, que me educa sobre as suas dores e delícias de ser Americana.

Нина

Wednesday, September 19, 2012

Há um vilarejo ali.

Companheiros de viagem em Woodstock - 43 anos depois do Festival. Foto: Nina Raquel 
Eu demorei para cair nas graças da Chapada dos Veadeiros quando morava em Brasília. Demorei até parar de fazer graça dos residentes de lá e demorei para perceber como a paz e o amor como filosofias de vida são necessários, não só quando se faz uma viagem para um lugar paradisíaco, mas aonde quer que se esteja. Justo eu que trabalho pela manutenção da paz diariamente, mesmo de maneira tão financeiro-administrativa, nunca havia tentado tanto buscar e manter a minha própria paz interior do que quando vim morar em Nova York. Aqui, eu valorizei e senti falta das poucas vezes que visitei Alto Paraíso e o vilarejo de São Jorge, e lamentei não ter conhecido esses dois lugares melhor e mais cedo. Mesmo sabendo que a paz interior de cada um não deve depender do local onde se está e sim de como nos sentimos seja onde quer que estejamos, não há como não admitir que tomar um banho de cachoeira gelado, catar cristais pela rua ou parar para admirar um pôr-do-sol na estrada ajudam nesse processo.

Velas artesanais da Candlestock. Foto: Nina Raquel
Quando se mora em uma cidade tão frenética e barulhenta como Nova York, os valores de tranquilidade e silêncio tornam-se inflacionados. E o Estado de Nova York surpreende com a possibilidade de se escapar da selva de concreto que é a cidade de mesmo nome e aproveitar toda a beleza natural que a região oferece. Apesar do meu lamento de não ter conhecido a Chapada o quanto eu queria e enquanto pude, eu tenho percebido como coisas incríveis acontecem quando paramos de olhar para o passado e nos focamos no agora. Parece piegas, mas é verdade. Uma delas aconteceu comigo ao decidir parar de reclamar da falta de uma cachoeira do cerrado no verão atual e ir visitar a cidade de Woodstock, no exato fim de semana de comemoração dos 43 anos do Festival de Música de 1969, que ocorreu entre 15 e 17 de Agosto, mas se estendeu até o dia 18. Encontrar tanta beleza natural e visitar lugares tão especiais foi ter a certeza de que tudo que nos faz feliz está ao nosso alcance aonde quer que estejamos. 

Woodstock Community Drum Circle. Foto: Nina Raquel 
Woodstock é uma graça, uma cidadezinha encantada. Apesar do festival de música de 1969 ter sido inspirado na cidade e todas as suas manifestações artísticas já existentes na época, ela não foi a locação oficial do evento, que ocorreu em uma fazenda próxima à cidade de Bethel,  a aproximadamente uma hora de lá. Como não há muito em Bethel além do centro de artes Bethel Woods, uma casa de shows construída no lugar do festival original, decidimos focar nossa visita em Woodstock, onde o nome, o espírito e a filosofia do Festival ainda estão presentes. Com dois grandes amigos, Marcus, querido ex-companheiro de República da Asa Norte, e Felipe, fomos rumo à Woodstock, que nos esperava cheia de lindas surpresas. Entre elas o círculo de tambores comunitário, realizado todos os domingos na pracinha central da cidade, das 16:00 às 18:00. Um show de alegria, improviso, risadas, dança e, acima de tudo, tolerância e respeito.

Uma das entradas da Candlestock. Foto: Nina Raquel
A cidade é charmosa e cheia de pequenos segredos. As pousadas e restaurantes românticos tornam-se rumo certo para casais em busca de mais amor em seus dias. As trilhas, o fantástico monastério Tibetano, e as paisagens são bálsamos para os que buscam paz, sozinhos ou acompanhados. A cidade reúne em si duas premissas básicas para a felicidade, seja individual ou compartilhada: paz e amor. O trajeto de ônibus dura duas horas de Nova York com a companhia Trailways, e o ponto de chegada é a praça central da cidade. Um loja de velas chamada Candlestock é a porta de entrada para se conhecer um pouco da arte local. São centenas de velas, de todas as cores, tamanhos e formas, feitas artesanalmente pelos moradores da cidade há mais de quarenta anos. www.candlestock.com

Interior do prédio Shrine, no Monastério Tibetano de Woodstock. Foto: Nina Raquel

























Escultura de Siddhartha. Foto: Nina Raquel
Um outro lugar imperdível é o monastério de Budismo Tibetano Karma Triyana Dharmachakra, fundado nos anos 70 e mantido até hoje apenas através de doações e de cursos e retiros realizados no local. O interior do Monastério é lindíssimo, a riqueza de cores e detalhes e o simbolismo de cada objeto são impressionantes. Situado no topo de uma montanha acessível de carro, bicicleta ou à pé (nossa opcão), o local é aberto para visitas e os voluntários que ajudam com a recepção de curiosos como nós são todos simpáticos e prestativos. O Monastério é constantemente visitado pelo Dalai Lama e foi a locação do filme Kundun, de Martin Scorcese, sobre a vida do Dalai Lama. Aos sábados, pode-se fazer aulas gratuitas de meditação, além de aulas de iniciacão ao budismo e visitas guiadas, tudo gratuito, dos sorrisos e delicadezas às trilhas para mirantes, rios e cachoeiras. www.kagyu.org/ktd/

Outro ângulo do interior do prédio Shrine. Foto: Nina Raquel


No topo da Indian Head, uma das montanhas da região de Catskills. Foto: Nina Raquel 















































As trilhas próximas ao Monastério e de toda a região das montanhas Catskills são incríveis e repleta de mirantes e nascentes de cachoeiras e de rios. Foi impossível não sentir saudades do cerrado nessas horas. Mas foi possível me sentir grata e realizada por saber que tudo que já nos fez feliz permanece conosco aonde quer que estejamos, independente da estrada escolhida. A minha me levou para longe, e somente quando eu aprendi a valorizar o meu caminho, ele me trouxe um pouco de volta para casa ao me proporcionar um encontro com esse paraíso chamado Woodstock.


Nova York, Woodstock, Nova Orleans e o Delta do Rio Mississippi. Vídeo de Nina Raquel

Monday, August 20, 2012

Para mulheres que (se) amam demais.

Eu havia informado para o Blog da Revista do Correio que em julho escreveria sobre o verão de Nova York e as várias atividades culturais, praias legais, festivais, enfim, tudo que ressurge nessa época onde a cidade literalmente ferve: a temperatura passa de 40 graus entre Julho e Agosto. Mas no meio do meu verão, eis que houve uma separação. E eu me encontrei transitando pela minha neo-solteirice sempre temida, mudando de apartamento, fazendo novos programas, descobrindo meu novo bairro e retomando contato com tudo e todos que sempre me fizeram feliz fora de qualquer relacionamento. E depois de dois anos e nove meses morando em Nova York, essa é a primeira vez que enfrentarei a Capital do Mundo comigo mesma, e por isso eu mudei as sugestões do que se fazer por aqui no verão, para falar de uma Nova York calorosa que eu estou descobrindo aos poucos, e que merece ser apreciada sem moderação por pessoas que estão aprendendo a gostar ou já gostam de suas próprias companhias, que estão descobrindo quem são fora de um relacionamento, o que querem ou não, e que decidem escolher ao invés de serem escolhidas. Eu espero me tornar essa mulher em breve, e é para ela que eu escrevo hoje. Aqui vão algumas amigas, sugestões e idéias que têm me feito feliz, que têm me ajudado a virar a mesa em caso de tristeza e que fazem de Nova York o lugar ideial para se celebrar um recomeço.

A querida Anita Petry, amiga de Brasília e moradora de Nova York, me falou da Bikram Yoga, que ela faz e adora. Em Nova York, surgem cada vez mais estúdios de yoga que ensinam apenas esse método. O treino consiste em uma sequência de 26 posturas selecionadas da Hatha Yoga pelo Yogi Bikram Choudhury e que são realizadas durante noventa minutos em uma sala bastante aquecida e normalmente com pouca iluminação, o que ajuda a desintoxicar, curar e prevenir lesões e, principalmente desestressar, já que não há como pensar e se preocupar em nada mais do que conseguir terminar a aula sem desistir. Eu fiz uma aula depois que vi como ela está com um corpo lindo de bailarina e quase saí da sala umas três vezes, mas depois que a aula termina, não há sensação melhor. Se ainda não existir nenhum estúdio de Bikram yoga em Brasília, seguem os mais legais de Nova York, onde se podem fazer aulas únicas, sem nenhum tipo de contrato. Basta pagar por uma aula ou um pacote de aulas. Esse é o estúdio da Anita, Bikram Yoga NYC: www.bikramyoganyc.com e esse é o estúdio onde fiz a minha aula, Bikram Yoga Grand Central: www.bikramyogagrandcentral.com

Mast Brothers Chocolates. Foto: Nina Raquel

A Moema Umann, amiga de longa data e com quem dividi meu primeiro apê ao chegar, me relembrou do querido Beauty Bar, um dos primeiros bares que eu conheci em Nova York. Localizado no East Village, em Manhattan, o local é um bar e um salão decorado em estilo anos 50. Todos os dias da semana, eles têm a promoção "Martinis e Manicures", de segunda à sexta das 18:00 às 23:00 e sábados e domingos das 19:00 às 23:00, onde por 10 dólares você toma um drink e faz as mãos. Não precisa de reserva. O importante é ser maior de 21 anos para poder aproveitar os dois mimos: o martini e o fato de estar em Nova York fazendo suas unhas em um bar tão estiloso. E o melhor de tudo é que o bar também tem festas maravilhosas, e um ambiente com DJ só para dançar e esquecer de qualquer problema. Todos os detalhes do Beauty Bar estão aqui: www.thebeautybar.com/New_York Um outro lugar genial é o Dry Bar, também em Manhattan. A proposta é simples: escovas de cabelo por 40 dólares com direito à taças de champagne enquanto você faz a sua escova. Só o open bar enquanto você faz a sua escova já vale a pena o investimento. Aqui estão os detalhes: www.thedrybar.com/

Brooklyn Charm. Foto: Nina Raquel
Além desses lugares, andando pelas ruas do meu novo bairro, o Brooklyn, eu achei um lugar muito especial: o Brooklyn Charm. Uma lojinha charmosa onde podemos criar nossa própria bijuteria. São centenas de peças de bijuteria, de todos estilos e cores imagináveis, expostas para você usar sua criatividade e montar sua peça personalizada. Basta escolher tudo, colocar em uma caixinha e levar no fundo da loja onde um artesão faz a montagem por dois dólares. O valor da peça é a soma de tudo que você escolheu. Tudo lindo e com preços razoáveis para quem acaba de sair com uma bijuteria feita na hora por você. Para mais informações: www.brooklyncharmshop.com/
Para quem adora criações originais de artistas super inspirados, esses dois sítios de compras de artigos artesanais são um sucesso por aqui: www.etsy.com e www.fab.com

Os Irmãos Mast. Foto: George Lange e José Mandojana
Outra maravilha do Brooklyn é a fábrica de chocolate Mast Brothers, uma alegria para os olhos e para o paladar. Todos os chocolates são feitos artesanalmente pelos lindos e simpáticos irmãos Mast. Homem bonito e simpático fazendo chocolate é uma mistura divina, maravilhosa. Fui conhecer o lugar e me apaixonei. Segue um vídeo dos irmãos e da loja/fábrica do Brooklyn, infelizmente o vídeo não é legendado, mas só as imagens dos irmãos e de suas criações já passam a idéia do quanto essa mistura pode ser benéfica para elevar os níveis de serotonina de meninas e de meninos. Clique aqui para ver o vídeo da Mast Brothers Chocolates, produzido pela revista The Scout. Para mais informações: www.mastbrothers.com

Para finalizar, vou falar de um fenômeno que acontece aqui em Nova York e que faz a alegria dos Nova-Iorquinos duas vezes por ano, antes e depois do solstício de verão no hemisfério norte, geralmente em maio e em julho. O ManhattanHenge, ou o Solstício de Manhattan, é um espetáculo natural de luzes e cores que o sol promove pelos concretos e arranha-céus de Manhattan ao se alinhar às ruas que seguem de leste a oeste de Manhattan, é um espetáculo de luz que atravessa a ilha e encanta os desavisados como eu (que tirei a foto por acaso) ou os fotógrafos que se alinham para tirar foto do melhor ângulo do pôr do sol que surge através do muro da selva de pedra que é Nova York.

Manhattanhenge da rua 42. Foto: Nina Raquel
O nome "Manhattanhenge" vem da junção das palavras Manhattan e Stonehenge, monumento famoso do sul da Inglaterra composto por grandes esculturas de pedras alinhadas em círculo. Um dos lugares mais legais para ser ver o Manhattangende é na rua 42, onde tirei essa foto. 
Para mais informações: http://en.wikipedia.org/wiki/Manhattanhenge

Termino esse texto com o que Norman Mailer escreveu certa vez e que para mim resume tudo que me fez procurar pelos programas acima, pelas amigas acima e tentar me manter "pra cima" e aprender a ser feliz só e celebrar o verão do amor (próprio) em Nova York: "As pessoas procuram o amor como solução para todos os seus problemas, quando na verdade o amor é a recompensa por você ter resolvido todos os seus problemas"

Sinceramente,
Nina

Tuesday, July 3, 2012

Street Art por Toda Parte

Street Art na Av. Amsterdam com a Rua 90, Nova York. Foto do colega e entusiasta de arte de rua, Guillaume Haccard
Eu lembro de andar pelas passarelas subterrâneas de Brasília e ficar prestando atenção aos graffitis, vendo as frases e as artes que ilustravam as paredes e os muros do caminho e achando que alguns representavam perfeitamente o que eu andava sentindo, o que eu andava enxergando nos outros e em mim. Arte é identificação. O que nos toca, prende nossa atenção em momentos de dor ou de alegria. E não há lugar mais acessível do que a rua para se identificar com o que quer que seja. É na rua que todas as causas encontram seus seguidores ou opositores. Não é preciso pagar ingresso, não é necessário entender de arte, basta ver ou ler algo que de alguma forma prenda a sua atenção, por mais rápido que seja. É ler um trecho de uma poesia que parece que foi escrita para retratar ao mundo de maneira bonita um momento que é só seu, uma imagem colorida que parece que foi colocada ali só para melhorar o humor de um dia cinza, ou uma frase de protesto, daquelas que inquieta qualquer um que tenha um revolucionário dorminhoco dentro do peito com amor à alguma causa. A arte mais democrática de Nova York está em suas ruas, em seus graffitis de ativismo social e político, de amor, de alegria e de dor que estão espalhados pela cidade. Os graffitis daqui me entretêm tanto quanto os das passarelas e muros de Brasília, quando eu desacelerava o passo para ver e ler a arte das ruas da nossa cidade, na falta de um carro e a caminho dos pontos de ônibus da Asa Norte. 

Arte de MOLL + TIGO na W3 Norte. Foto: Renato Moll
Tem gente que não gosta e não considera arte o que está pela rua. Além disso, há um certo preconceito envolvendo a "street art", ou " arte de rua" em Nova York. Em primeiro lugar porque o grafitti em locais proibidos é considerado um ato de vandalismo, um crime. No entanto, existem áreas da cidade onde a arte de rua é feita dentro da lei e em locais apropriados. E esse museu ao ar livre merece ser visitado. É uma expressão verdadeira da multietnicidade de Nova York, do quanto todo mundo quer e precisa deixar a sua marca, sinalizar sua existência, dar seu recado ou apenas cores à vida de alguém. O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg é um famoso militante contra o movimento do graffiti na cidade e tem recebido críticas de artistas de rua por sua intolerância ao movimento, mesmo quando feito em locais adequados. Eu, particularmente, me impressiono ao ver alguns graffitis por aqui e acho que quando se respeita a localização e não há nenhuma associação com vandalismo, graffiti é bonito sim. É forte, traz uma mensagem, e muitas vezes é a forma primária de contato de jovens com a arte. E nenhum tipo de arte é capaz de criar tanta mobilização e ativismo social do que a arte da rua. Para mais informações sobre essa arte em Brasília, visitem a galeria do Renato Moll: www.flickr.com/photos/renatomoll/ e a galeria de arte de rua de Brasília www.flickr.com/groups/brasilia-df-graffiti/ 

Street Art com o 5Pointz ao fundo. Foto: Guillaume Haccard
Em Nova York, o lugar mais legendário para se conhecer a arte de rua local é o famoso 5Pointz, em Long Island City, Queens. Conhecido como um Centro de Arte Aerosol, o local é uma galeria de arte ao ar livre e é considerado a Meca do Grafitti Mundial, onde artistas do mundo inteiro deixam sua arte pelos mais de 18,000 metros quadrados de muros de uma fábrica desativada. Para deixar seu registro em aerosol pelas galerias do 5Pointz, basta agendar via e-mail com a organização do local, através da página http://5ptz.com/graff/about/. Além do 5Pointz, Nova York também é a sede da primeira agência turística de arte de rua da América do Norte, a Graff Tours. Eles são especializados em graffiti e arte de rua em geral e oferecem passeios individuais e em grupo, públicos e privados, mapas e workshops sobre graffiti em Nova York, sempre com os melhores profissionais da área. Para mais informações: www.grafftours.com

Antes e depois. Linda intervenção em NYC do famoso artista e ativista inglês Banksy. Pintaram tudo de cinza. Foto: Nina Raquel. Para mais informações sobre o artista: www.banksy.co.uk

Keith Haring e seu amor público por Nova York

Sem-título, de 1987. Fonte: www.haring.com
A arte de rua não se limita ao graffiti, e quem comprova isso é Keith Haring, um dos maiores artistas de rua e do movimento de pop art mundial.  Haring começou sua carreira em Nova York e se tornou um dos ícones de um movimento que pregava a propagação da arte fora das galerias e museus. Sua arte partia do princípio da independência fundamental do artista, e ele dedicou sua carreira em criar um arte verdadeiramente pública. Sua carreira começou com desenhos feitos com giz branco sobre cartazes e painéis pelas estações de metrô de Nova York. Entre 1980 e 1985, Haring produziu centenas de desenhos públicos com suas famosas linhas rítmicas. Esse fluxo contínuo de imagens desenhadas em estilo único começaram a ficar populares entre os passageiros dos metrôs, que com frequência paravam para interarir com Haring quando o encontravam desenhando pelas estações. O metrô se tornou, segundo Haring " um laboratório" para trabalhar suas idéias. Durante sua carreira, Haring dedicou grande parte do seu tempo aos seus trabalhos públicos, quase sempre com mensagems de mobilização social, principalmente contra o uso de drogas. Muitas das suas artes foram criadas em hospitais, creches e orfanatos de Nova York. O famoso mural contra o uso de crack na cidade "crack is wack', ou seja, "crack é horrível" de 1986 se tornou um ponto de referência na FDR Drive, um rua movimentada de Nova York. Em 1988 Keith foi diagnosticado como portador do HIV/Aids e em 1989 criou a Fundação Keith Haring, para ajudar crianças carentes e trabalhar com a conscientização e prevenção do HIV/Aids. Keith ajudava os Nova-Iorquinos em situação de risco enquanto ainda tentava se ajudar. Tornou-se um grande ativista social e faleceu em 1990, com 31 anos. Nova York não se cansa de homenageá-lo e atualmente suas obras encontram-se em exposição no Museu do Brooklyn. Para descobrir Keith Haring pelas ruas de Nova York: http://www.fatcap.com/artist/keith-haring.html

Street Art na Avenida Amsterdam com a Rua 90, Nova York. Foto: Guillaume Haccard
Todo mundo que tem um pouco de arte em si quer intervir, seja na rua, em um papel, em alguém, ou em si mesmo. A arte de rua de Nova York, como em Brasília, facilita essa intervenção. Quando procuramos por uma mensagem ou um desenho pela paisagem estamos procurando identificação, a premissa básica que une dois artistas, dois observadores, duas pessoas. Olhemos com cuidado pelas ruas da nossa cidade, observemos os detalhes. É fácil estar atento quando se está em um museu, mas ativar o olhar do observador quando todo o resto está distraído com a correria diária é para poucos. Olhemos atentos aos artistas que decidiram ser públicos, por opção ou falta dela, e exercem o desprendimento de nos doar um pouco de arte para qualquer um que passe e queira vê-la. 

Tuesday, May 15, 2012

Santo Antônio em Terra de São Valentim

Escultura Love, de Robert Indiana. Foto: Nina Raquel
Daqui há aproximadamente um mês será dia dos namorados em Brasília: presentes apressados sendo comprados pelo Plano Piloto, casais que aguardam sorridentes suas reservas em restaurantes lotados e amores com vistas para o Lago. Em Nova York, será uma terça-feira como qualquer outra. E eu já deveria ter me acostumado com a tradição local do 14 de Fevereiro, mas confesso que simpatizo mais com o nosso "Santo Casamenteiro" do que o mundialmente famoso São Valentim. Além disso, acho que a importância das coisas está na carga de emoção, memórias e sensações que elas trazem consigo e, nesse caso, o 12 de Junho, por repetição e definição, me lembram de casa, onde ainda está meu coração. Nova York não escancara no romantismo como outras cidades, mas existe algo que parece dizer “não é de amor que você vai viver aqui, mas vamos te relembrar que é importante encontrá-lo no caminho. Seja em algo, em alguém ou em você". A cidade faz questão de nos lembrar que existe amor e delicadeza disfarçados em suas ruas lotadas, em interações descuidadas, em olhares que se cruzam por segundos, é só prestar atenção, já que ela não nunca desacelera para que a busca seja mais fácil. Os lembretes, no entanto, funcionam. Na esquina da Sexta Avenida com a Rua 55, encontra-se uma escultura de quase quatro metros com as letras LOVE, do artista Robert Indiana. A imagem foi criada originalmente para o cartão de natal do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) em 1964, e virou escultura em 1970, no Museu de Artes de Indianápolis. Ela é reproduzida em vários outros estados, países e idiomas. E apesar da original estar em Indianápolis, a versão de Nova York é mais colorida, mais bonita e melhor localizada.

Ponte do Brooklyn. Foto: Nina Raquel
Um segredo de Nova-Iorquinos e turistas apaixonados é o de colocar as iniciais do casal em um cadeado e trancá-lo em uma das grades da histórica Ponte do Brooklyn. Cada vez mais pode-se ver cadeados gravados com letras, nomes e corações por seus bancos, grades e muros. Apesar de bonitinhos, os cadeados são contra as regras da Ponte, que possui placas alertando os pedestres de que nenhum tipo de "acessório" pode ser colocado em sua estrutura. Não se sabe se a vigilância local faz vista grossa, mas que existem cadeados de 2007 que ainda estão lá, existem. O Departamento de Transportes da cidade já informou que não se incomoda com as declarações de amor, mas elas têm que ser feitas em lugares pouco visíveis e de pouca movimentação, e se os cadeados começarem a se multiplicar a ponto de afetar o visual da Ponte, irá começar a recolhê-los. Nesse sentido, vale usar o conselho do poeta Quintana, "Se tu me amas, ama-me baixinho. Não o grites de cima dos telhados. Deixa em paz os passarinhos". Para os que decidirem se aventurar, melhor achar uma grade discreta e selar seu amor por lá.

Uma tradição curiosa da cidade é a de postar declarações de amor das mais exageradas para desconhecidos na sessão "missed connections", ou "conexões perdidas", da página "craigslist" de Nova York, uma plataforma onde se vende, se compra e se troca literalmente tudo. Lá, Nova-Iorquinos postam detalhes sobre pessoas que viram no trânsito da cidade (metrôs ou ônibus) e por quem se apaixonaram à primeira vista, na tentativa de tentar reencontrá-las. Esquisito? Um pouco. A parte legal é que as conexões perdidas são categorizadas em "de homem para mulher" e vice-versa, "de homem para homem" e "de mulher para mulher". Todo dia 14 de Fevereiro, o Museu do Trânsito de Nova York realiza a "Festa das Conexões Perdidas", em uma plataforma de metrô antiga e desativada da coleção do Museu. Jornalistas e escritores conhecidos do New York Times fazem leituras, poesia e graça dos anúncios mais interessantes e artistas expõem pinturas inspiradas nas conexões perdidas. O evento é totalmente gratuito e se não der para se emocionar com as declarações, dá para se divertir. A festa é anunciada na página do museu: http://mta.info/mta/museum/

Capa do álbum The Freewheelin', de 1963. Foto: Don Hunstein
Nova York foi o cenário de uma das minhas fotos preferidas, a de um amor despretensioso, de um encontro que não foi eterno, mas foi intenso, e está imortalizado na capa de um dos melhores álbuns da história. O jovem Bob Dylan, de vinte e dois anos, e sua então namorada Suze Rotolo, caminham sorrindo e de braços dados para a capa do seu segundo álbum, The Freewheelin', que tem entre seus clássicos "Blowin' in the Wind" e lançou o artista como ícone mundial da música folk. O ano é 1963 e o bairro é Greenwich Village, na Rua Jones com a Rua West 4. A foto foi tirada a poucos metros do prédio número 161 da Rua West 4, onde Dylan morava. Histórias de amor como essa, que começam inadvertidas e sossegadamente improvisadas, podem tornar-se clássicos ou, no mínimo, muito especiais para quem as viveu nessa cidade.

Capa da revista Americana Life, de 1945. Foto: Alfred Eisenstaedt
Em 1945, Nova York também foi o cenário do beijo mais apaixonado e improvisado da história, entre um marinheiro e uma enfermeira que nunca haviam se visto antes, em comemoração ao fim da Segunda Guerra Mundial. A cada cinco anos, a administração da Times square organiza um evento "do beijo" onde centenas de casais, vários vestidos de marinheiros e enfermeiras, vão para a mesma localidade do famoso ato, na Sétima Avenida próximo as ruas 44 e 45, e recriam a cena outra vez. Havia pouco a se celebrar nessa época, tempos tristes de guerra e injustiças. Mas um beijo como esse aconteceu e isso, em si, merece ser relembrado.
O próximo evento será no dia 14 de Agosto de 2015. Para mais informações:
http://www.timessquarenyc.org/events/kiss-in 

Monday, April 16, 2012

Pra não dizer que não falei das flores.

Rockefeller Center em flores. Foto: Nina Raquel
Mudam-se as estações e tudo muda por aqui. Sorrisos gratuitos começam a substituir os olhares melancólicos de quem via o dia acabar às quatro da tarde, as roupas mudam, o clima esquenta, as pernas apressadas reaparecem, as flores desabrocham e Nova York renasce em sua versão mais colorida e simpática. A gentileza intencional dos Nova-Iorquinos surge como um bônus pelos feriados religiosos e familiares dessa época e conforta o coração de quem está longe de casa. E para quem teve Brasília como casa, há uma sensação de deslumbre encontrada aqui que só quem já andou por uma super-quadra do plano piloto e parou para admirar ou fotografar um ipê em flores conhece. Na primavera, Nova York é toda esperança, é gente sorrindo sem muita razão como num estado de alegria inocente de criança. É quase estranho lembrar que Wall Street e todo seu significado está nessa mesma cidade de jardins, inocência, cores e humor.
Os significados dos feriados de Páscoa para os católicos e de Pessach para os judeus trazem uma celebração de algo mais do que a renovação, a passagem e a libertação que eles simbolizam, trazem algo etéreo, um clima de harmonia, um sonho com significado onde, independente do que cada um acredite, todo mundo só quer brincar e ser perdoado. E para mim, a lição de perdão mais linda dessa época não é dada por nenhuma religião, e sim pela natureza, que brota sem timidez e com tanta vivacidade que parece nos mostrar que, mesmo quando esquecemos de valorizá-la, de protegê-la e de cuidá-la, ela nos perdoa e nos presenteia com beleza. 

Karin Vazquez e o ipê-rosa, Brasília. 
Os ipês de Nova York chamam-se cerejeiras. De origem Japonesa, elas começam a brotar em março, início oficial da primavera, e desabrocham em abril, criando um espetáculo de cores e harmonia. É tão lindo quanto a surpresa de se ver um ipê florido ao voltar do trabalho. No Jardim Botânico do Brooklyn, o "Hanami", costume tradicional japonês de se contemplar as cerejeiras em todos os momentos do desabrochar, é praticado com disciplina asiática pelos locais. No sítio do Jardim Botânico pode-se inclusive acompanhar a flora através de fotos para então decidir o dia da visita de acordo com o auge do desabrochar dos jardins. Mais metafórico impossível. O fim do Hanami culmina com o festival de cultura Japonesa Sakura Matsuri, que ocorre nos últimos dias de abril. Já em Manhattan, um dos meus jardins favoritos fica no Central Park e se chama Conservatory Garden, é de uma beleza simétrica e programada, como os jardins de  Brasília. Com cores e formatos escolhidos estrategicamente, vale a pena se perder pelos corredores e mirantes desse jardim, e reconhecer os canteiros do Plano Piloto em flores e simetrias familiares.

Jean-Jacques e a cerejeira, Nova York.
Para passar uma primavera poética no Central Park, um ótimo programa é o passeio de barco a remo no lago do parque, que abre de abril à novembro, das 10:00 da manhã até o pôr-do-sol e custa $12,00 dólares por barco, com ocupação para até quatro pessoas. Depois de um dia lindo, florido e bucólico no Central Park, uma dica é conhecer o Roof Garden Café, um ambiente aberto no topo do Metropolitan Museum, um lugar ideal para drinks com vistas maravilhosas do parque e de Manhattan. O Café abre à partir de maio, todos os fins de semana até às 08:00 da noite. Uma outra opção para um fim de tarde primaveril é o bar/restaurante "The Frying Pan", em um navio original de 1929 ancorado no pier 66 de Manhatan. Um  dos programas mais legais de Nova York quando o clima está bom.

Conservatory Garden, Central Park. Foto: Nina Raquel
Um parque mais discreto mas cheio de personalidade é o Bryant Park, pequeno e localizado entre ruas movimentadas e barulhentas, mas que se torna um oásis zen de Maio à Setembro, quando oferece aulas públicas e gratuitas de yoga em seu gramado todas as manhãs e noites de terças e quintas.
Uma atividade curiosa e muito engraçada é a "briga de travesseiros" gigante da cidade, todo começo de Abril no Washington Square Park, um dos mais artísticos da cidade. Esse ano, mais de cinco mil pessoas participaram da brincadeira e foram pra praça com seus travesseiros embaixo do braço. Caso você não seja alérgico(a) como eu, a farra terapêutica é mais do que válida. Em uma cidade onde nem tudo são flores, só a primavera consegue fazer qualquer Nova-Iorquino, incidental ou não, desacelerar, observar e (re)aprender a se deslumbrar com as pequenas alegrias dessa estação.


Para mais informações:

Jardim Botânico do Brooklyn: http://www.bbg.org/
Conservatory Garden: http://www.centralparknyc.org/visit/things-to-see/north-end/conservatory-garden.html
Roof Garden Café do Metropolitan Museu: http://www.metmuseum.org/visit/plan-your-visit/dining-at-the-museum/roof-garden-cafe-and-martini-bar
Yoga gratuita no Bryant Park: http://bryantpark.org/plan-your-visit/yoga.html
Briga de Travesseiros do Washington Square Park: http://www.pillowfightday.com/2012/new-york
Restaurante Flutuante "Frying Pan": http://fryingpan.com/

Sunday, March 25, 2012

Nova York Proibida

Que vergonha! Foto de contrabandistas de álcool nos EUA em 1929. Fonte: New York Times 
Semana passada eu assisti o filme O Artista em um cinema do bairro East Village e fiquei nostálgica por algo que eu nunca vivi. Saí de lá com vontade de encontrar uma Nova York que permanece escondida em um passado que para mim representa o início do que me faz secretamente admirar a cultura americana em momentos de descuido: a música, a criatividade, a capacidade de juntar seus pedaços após uma quebra e se reinventar, os mocinhos e os bandidos, as divas, os figurinos impecáveis, a classe de uma época onde não havia realidade barata televisionada por pseudo-atores, onde música era sinônimo de talento, onde os prazeres eram privados e a proibição deixava tudo mais interessante. 

O filme, que se passa em 1927, retrata a transição do cinema mudo para o falado. No entanto, uma mudança menos sutil acontecia nessa mesma década: a era da proibição, a lei seca Americana. Em 1920 entrava em vigor a 18ª Emenda à Constituição dos EUA aprovada pelo congresso Americano que proibia a fabricação e venda de bebidas alcoólicas. O Ato de Proibição Nacional só terminaria em dezembro de 1933 com a 21ª Emenda à Constituição Americana, permanecendo ativo por 13 anos. Durante essa época, metade das bebidas nos EUA eram produzidas clandestinamente ou adulteradas, o que forçou a era clássica dos drinks dos anos 20 a sair de cena. Coquetéis de péssima qualidade e mau-gosto estavam em cartaz. Muitos anos antes de Carrie Bradshaw e seus cosmopolitans, Nova York vivia a pior época para coquetéis da sua história. A expressão muito usada aqui quando algo é muito bom "to die for", ou seja, "de morrer", era literal na época da proibição. Durante o período de férias de 1926 em Nova York, 47 pessoas morreram por beberem bebidas envenenadas, no mesmo ano, a contagem subiu para 741 pessoas. Os coquetéis clássicos e barmen profissionais saíram do país e se instalaram em Londres e Paris, que se tornaram sinônimos de liberdade, classe e sofisticação.

John A. Leach, Chefe da Polícia de Nova York, observa seus funcionários derramarem bebida ilegal no esgoto após uma apreensão em 1921. Fonte: New York Times 

Bar? Onde?

"Joe sent me" Fonte: New York Times
Os bares "speakeasy", traduzidos como "fale baixo" se tornaram a atividade ilegal mais lucrativa da história dos EUA. A idéia era disfarçar o máximo possível bares, de maneira que as autoridades não pudessem identificá-los. Portas escondidas em restaurantes, entradas subterrâneas em hotéis, paredes falsas em mercearias, senhas, valia tudo para que os estabelecimentos se mantivessem disfarçados e acima de qualquer suspeita. Os clientes tinham que acessar os locais da maneira mais discreta possível. A expressão "Joe sent ment" ou "João me mandou" era a senha mais dita ao se bater na porta de um bar speakeasy, enquanto o cliente era verificado por um olho mágico do outro lado da porta. 

Belle Livingston, sendo levada para depor em 
 um delegacia em 1931. Fonte: New York Times
Durante esse período o contrabando de álcool se tornou um dos negócios mais rentáveis dos EUA, o gangster Al Capone controlava Chicago e quase todos os seus bares speakeasy. A maior quantidade de álcool contrabandeado para o nordeste Americano entrava via Canadá. E Nova York já se mostrava criadora de tendências desde aquela época, pois aqui era uma mulher quem comandava quase todos os bares speakeasy e casas de show: Belle Livingston. Em uma época em que as mulheres eram donas de casa e haviam recém conquistado o direito de votar, Belle ditava as regras do jogo na Nova York proibida. 




Crif Dogs, ou Please Don't Tell. Foto: Nina Raquel 
Nova York, 2012. Quando o presente não nos basta e falha em nos oferecer o que admiramos de onde estamos, o passado nos consola. Nova York anda apaixonada por seu passado proibido. A melhor mistificação de um bar estilo speakeasy se chama Please Don't Tell, traduzido, Por Favor Não Conte, localizado na rua St. Marks Place, no bairro East Village de Manhattan. Os clientes entram em uma lanchonete de cachorros-quentes chamada Crif Dogs, um lugar pequeno e despretensioso. Do lado esquerdo de quem entra na lanchonete há uma cabine telefônica dos anos 20, o cliente tira o fone do gancho e se identifica. Um interfone abre uma porta secreta que revela um ambiente exótico e antigo feito de coquetéis artesanais e bebidas incrementadas que são consumidas sob os olhos de animais empalhados e obras de arte.  Uma vez dentro do bar, clientes devem respeitar a regra do local e respeitar o termo, falando baixo e mantendo a descrição. Speakeasy é um termo usado atualmente para fazer graça, já que o negócio é completamente legal. Mas a intenção de se manter a áurea da era da proibição faz desses bares ótimas opções quando queremos experimentar a sensação de se voltar no tempo da proibição. Nova York decidiu se reencontrar com seu passado para continuar nos encantando com tudo que não se encontra em outros lugares. E quem diria que Americanos, com seu eterno moralismo, já gostavam de quebrar as regras e dar "um jeitinho" na lei. Soa familiar, Brasil? Como não se sentir em casa nessas horas? 

Rua Doyers, esconderijo do Apotheke. Foto: Nina Raquel
Uma outra opção é o bar Apotheke, ainda mais impressionante. O bar se esconde em uma rua deserta do bairro de Chinatown e não possui nenhum tipo de identificação. Para encontrá-lo, a referência é o restaurante Nom Wah Tea Parlor. Quando se está na frente do restaurante, há uma pequena porta à esquerda que dá para o bar speakeasy Apotheke. A decoração, a atmosfera e os drinks são incríveis e sensação de que se está fazendo algo errado, mesmo não estado, também. Todas as quartas-feiras, o lugar tem uma noite especial chamada "Prohibition Sessions", ou Sessões da Proibição, onde os clássicos do jazz dos anos 20 e 30 são interpretados por um trio de cantoras maravilhosas.  

Café Moto, em Williamsburg (Brooklyn). Foto: Nina Raquel 
Ainda sobre o jazz, a era da proibição foi um período de acensão de grandes nomes do estilo, que tiverem um papel chave no chamado "prohibition-era jazz", nomes como Louis Armstrong, Bix Beiderbeck, Duke Ellington, Paul Whiteman e Bessie Smith são artistas que se destacaram imensamente nesse período e são interpretados e ouvidos com encantamento em bares speakeasy. No Café Moto, no bairro moderninho de Williamsburg, pode-se encontrar um quê de proibicão. Apesar de não estar tão disfarçado, o local também pode passar desapercebido por qualquer visitante descuidado. Localizado embaixo de uma ponte no Brooklyn, o café se mantém solitário no fim de uma rua escura. Uma porta pequena e uma bicicleta antiga pendurada no exterior do bar são as suas identificações. O lugar é pequeno e está sempre lotado. Se você não se importa em ficar encostando cotovelos com a pessoa da mesa ao lado, a agenda musical de jazz é impressionante. Dois dos melhores grupos de jazz que eu  já vi ao vivo, Jake Sanders Small Groups and Quintet e Baby Soda são residentes do Café Moto e se intercalam entre sextas-feiras e sábados. 

Proibida ou não, Nova York sabe como agradar e se reinventar quando o atual não é tão interessante pelo simples fato de estar ao alcance de qualquer um. Como no amor, algumas histórias são mais especiais pelo simples fato de não poderem se realizar. E algumas épocas são mais interessantes pelo simples fato de não termos estado lá.