Wednesday, September 19, 2012

Há um vilarejo ali.

Companheiros de viagem em Woodstock - 43 anos depois do Festival. Foto: Nina Raquel 
Eu demorei para cair nas graças da Chapada dos Veadeiros quando morava em Brasília. Demorei até parar de fazer graça dos residentes de lá e demorei para perceber como a paz e o amor como filosofias de vida são necessários, não só quando se faz uma viagem para um lugar paradisíaco, mas aonde quer que se esteja. Justo eu que trabalho pela manutenção da paz diariamente, mesmo de maneira tão financeiro-administrativa, nunca havia tentado tanto buscar e manter a minha própria paz interior do que quando vim morar em Nova York. Aqui, eu valorizei e senti falta das poucas vezes que visitei Alto Paraíso e o vilarejo de São Jorge, e lamentei não ter conhecido esses dois lugares melhor e mais cedo. Mesmo sabendo que a paz interior de cada um não deve depender do local onde se está e sim de como nos sentimos seja onde quer que estejamos, não há como não admitir que tomar um banho de cachoeira gelado, catar cristais pela rua ou parar para admirar um pôr-do-sol na estrada ajudam nesse processo.

Velas artesanais da Candlestock. Foto: Nina Raquel
Quando se mora em uma cidade tão frenética e barulhenta como Nova York, os valores de tranquilidade e silêncio tornam-se inflacionados. E o Estado de Nova York surpreende com a possibilidade de se escapar da selva de concreto que é a cidade de mesmo nome e aproveitar toda a beleza natural que a região oferece. Apesar do meu lamento de não ter conhecido a Chapada o quanto eu queria e enquanto pude, eu tenho percebido como coisas incríveis acontecem quando paramos de olhar para o passado e nos focamos no agora. Parece piegas, mas é verdade. Uma delas aconteceu comigo ao decidir parar de reclamar da falta de uma cachoeira do cerrado no verão atual e ir visitar a cidade de Woodstock, no exato fim de semana de comemoração dos 43 anos do Festival de Música de 1969, que ocorreu entre 15 e 17 de Agosto, mas se estendeu até o dia 18. Encontrar tanta beleza natural e visitar lugares tão especiais foi ter a certeza de que tudo que nos faz feliz está ao nosso alcance aonde quer que estejamos. 

Woodstock Community Drum Circle. Foto: Nina Raquel 
Woodstock é uma graça, uma cidadezinha encantada. Apesar do festival de música de 1969 ter sido inspirado na cidade e todas as suas manifestações artísticas já existentes na época, ela não foi a locação oficial do evento, que ocorreu em uma fazenda próxima à cidade de Bethel,  a aproximadamente uma hora de lá. Como não há muito em Bethel além do centro de artes Bethel Woods, uma casa de shows construída no lugar do festival original, decidimos focar nossa visita em Woodstock, onde o nome, o espírito e a filosofia do Festival ainda estão presentes. Com dois grandes amigos, Marcus, querido ex-companheiro de República da Asa Norte, e Felipe, fomos rumo à Woodstock, que nos esperava cheia de lindas surpresas. Entre elas o círculo de tambores comunitário, realizado todos os domingos na pracinha central da cidade, das 16:00 às 18:00. Um show de alegria, improviso, risadas, dança e, acima de tudo, tolerância e respeito.

Uma das entradas da Candlestock. Foto: Nina Raquel
A cidade é charmosa e cheia de pequenos segredos. As pousadas e restaurantes românticos tornam-se rumo certo para casais em busca de mais amor em seus dias. As trilhas, o fantástico monastério Tibetano, e as paisagens são bálsamos para os que buscam paz, sozinhos ou acompanhados. A cidade reúne em si duas premissas básicas para a felicidade, seja individual ou compartilhada: paz e amor. O trajeto de ônibus dura duas horas de Nova York com a companhia Trailways, e o ponto de chegada é a praça central da cidade. Um loja de velas chamada Candlestock é a porta de entrada para se conhecer um pouco da arte local. São centenas de velas, de todas as cores, tamanhos e formas, feitas artesanalmente pelos moradores da cidade há mais de quarenta anos. www.candlestock.com

Interior do prédio Shrine, no Monastério Tibetano de Woodstock. Foto: Nina Raquel

























Escultura de Siddhartha. Foto: Nina Raquel
Um outro lugar imperdível é o monastério de Budismo Tibetano Karma Triyana Dharmachakra, fundado nos anos 70 e mantido até hoje apenas através de doações e de cursos e retiros realizados no local. O interior do Monastério é lindíssimo, a riqueza de cores e detalhes e o simbolismo de cada objeto são impressionantes. Situado no topo de uma montanha acessível de carro, bicicleta ou à pé (nossa opcão), o local é aberto para visitas e os voluntários que ajudam com a recepção de curiosos como nós são todos simpáticos e prestativos. O Monastério é constantemente visitado pelo Dalai Lama e foi a locação do filme Kundun, de Martin Scorcese, sobre a vida do Dalai Lama. Aos sábados, pode-se fazer aulas gratuitas de meditação, além de aulas de iniciacão ao budismo e visitas guiadas, tudo gratuito, dos sorrisos e delicadezas às trilhas para mirantes, rios e cachoeiras. www.kagyu.org/ktd/

Outro ângulo do interior do prédio Shrine. Foto: Nina Raquel


No topo da Indian Head, uma das montanhas da região de Catskills. Foto: Nina Raquel 















































As trilhas próximas ao Monastério e de toda a região das montanhas Catskills são incríveis e repleta de mirantes e nascentes de cachoeiras e de rios. Foi impossível não sentir saudades do cerrado nessas horas. Mas foi possível me sentir grata e realizada por saber que tudo que já nos fez feliz permanece conosco aonde quer que estejamos, independente da estrada escolhida. A minha me levou para longe, e somente quando eu aprendi a valorizar o meu caminho, ele me trouxe um pouco de volta para casa ao me proporcionar um encontro com esse paraíso chamado Woodstock.


Nova York, Woodstock, Nova Orleans e o Delta do Rio Mississippi. Vídeo de Nina Raquel