Rockefeller Center em flores. Foto: Nina Raquel |
Mudam-se as estações e tudo muda por aqui. Sorrisos gratuitos começam a substituir os olhares melancólicos de quem via o dia acabar às quatro da tarde, as roupas mudam, o clima esquenta, as pernas apressadas reaparecem, as flores desabrocham e Nova York renasce em sua versão mais colorida e simpática. A gentileza intencional dos Nova-Iorquinos surge como um bônus pelos feriados religiosos e familiares dessa época e conforta o coração de quem está longe de casa. E para quem teve Brasília como casa, há uma sensação de deslumbre encontrada aqui que só quem já andou por uma super-quadra do plano piloto e parou para admirar ou fotografar um ipê em flores conhece. Na primavera, Nova York é toda esperança, é gente sorrindo sem muita razão como num estado de alegria inocente de criança. É quase estranho lembrar que Wall Street e todo seu significado está nessa mesma cidade de jardins, inocência, cores e humor.
Os significados dos feriados de Páscoa para os católicos e de Pessach para os judeus trazem uma celebração de algo mais do que a renovação, a passagem e a libertação que eles simbolizam, trazem algo etéreo, um clima de harmonia, um sonho com significado onde, independente do que cada um acredite, todo mundo só quer brincar e ser perdoado. E para mim, a lição de perdão mais linda dessa época não é dada por nenhuma religião, e sim pela natureza, que brota sem timidez e com tanta vivacidade que parece nos mostrar que, mesmo quando esquecemos de valorizá-la, de protegê-la e de cuidá-la, ela nos perdoa e nos presenteia com beleza.
Karin Vazquez e o ipê-rosa, Brasília. |
Os ipês de Nova York chamam-se cerejeiras. De origem Japonesa, elas começam a brotar em março, início oficial da primavera, e desabrocham em abril, criando um espetáculo de cores e harmonia. É tão lindo quanto a surpresa de se ver um ipê florido ao voltar do trabalho. No Jardim Botânico do Brooklyn, o "Hanami", costume tradicional japonês de se contemplar as cerejeiras em todos os momentos do desabrochar, é praticado com disciplina asiática pelos locais. No sítio do Jardim Botânico pode-se inclusive acompanhar a flora através de fotos para então decidir o dia da visita de acordo com o auge do desabrochar dos jardins. Mais metafórico impossível. O fim do Hanami culmina com o festival de cultura Japonesa Sakura Matsuri, que ocorre nos últimos dias de abril. Já em Manhattan, um dos meus jardins favoritos fica no Central Park e se chama Conservatory Garden, é de uma beleza simétrica e programada, como os jardins de
Brasília. Com cores e formatos escolhidos estrategicamente, vale a pena se perder pelos corredores e mirantes desse jardim, e reconhecer os canteiros do Plano Piloto em flores e simetrias familiares.
Jean-Jacques e a cerejeira, Nova York. |
Conservatory Garden, Central Park. Foto: Nina Raquel |
Uma atividade curiosa e muito engraçada é a "briga de travesseiros" gigante da cidade, todo começo de Abril no Washington Square Park, um dos mais artísticos da cidade. Esse ano, mais de cinco mil pessoas participaram da brincadeira e foram pra praça com seus travesseiros embaixo do braço. Caso você não seja alérgico(a) como eu, a farra terapêutica é mais do que válida. Em uma cidade onde nem tudo são flores, só a primavera consegue fazer qualquer Nova-Iorquino, incidental ou não, desacelerar, observar e (re)aprender a se deslumbrar com as pequenas alegrias dessa estação.
Para mais informações:
Jardim Botânico do Brooklyn: http://www.bbg.org/
Conservatory Garden: http://www.centralparknyc.org/visit/things-to-see/north-end/conservatory-garden.html
Roof Garden Café do Metropolitan Museu: http://www.metmuseum.org/visit/plan-your-visit/dining-at-the-museum/roof-garden-cafe-and-martini-bar
Yoga gratuita no Bryant Park: http://bryantpark.org/plan-your-visit/yoga.html
Briga de Travesseiros do Washington Square Park: http://www.pillowfightday.com/2012/new-york
Restaurante Flutuante "Frying Pan": http://fryingpan.com/