Tuesday, July 3, 2012

Street Art por Toda Parte

Street Art na Av. Amsterdam com a Rua 90, Nova York. Foto do colega e entusiasta de arte de rua, Guillaume Haccard
Eu lembro de andar pelas passarelas subterrâneas de Brasília e ficar prestando atenção aos graffitis, vendo as frases e as artes que ilustravam as paredes e os muros do caminho e achando que alguns representavam perfeitamente o que eu andava sentindo, o que eu andava enxergando nos outros e em mim. Arte é identificação. O que nos toca, prende nossa atenção em momentos de dor ou de alegria. E não há lugar mais acessível do que a rua para se identificar com o que quer que seja. É na rua que todas as causas encontram seus seguidores ou opositores. Não é preciso pagar ingresso, não é necessário entender de arte, basta ver ou ler algo que de alguma forma prenda a sua atenção, por mais rápido que seja. É ler um trecho de uma poesia que parece que foi escrita para retratar ao mundo de maneira bonita um momento que é só seu, uma imagem colorida que parece que foi colocada ali só para melhorar o humor de um dia cinza, ou uma frase de protesto, daquelas que inquieta qualquer um que tenha um revolucionário dorminhoco dentro do peito com amor à alguma causa. A arte mais democrática de Nova York está em suas ruas, em seus graffitis de ativismo social e político, de amor, de alegria e de dor que estão espalhados pela cidade. Os graffitis daqui me entretêm tanto quanto os das passarelas e muros de Brasília, quando eu desacelerava o passo para ver e ler a arte das ruas da nossa cidade, na falta de um carro e a caminho dos pontos de ônibus da Asa Norte. 

Arte de MOLL + TIGO na W3 Norte. Foto: Renato Moll
Tem gente que não gosta e não considera arte o que está pela rua. Além disso, há um certo preconceito envolvendo a "street art", ou " arte de rua" em Nova York. Em primeiro lugar porque o grafitti em locais proibidos é considerado um ato de vandalismo, um crime. No entanto, existem áreas da cidade onde a arte de rua é feita dentro da lei e em locais apropriados. E esse museu ao ar livre merece ser visitado. É uma expressão verdadeira da multietnicidade de Nova York, do quanto todo mundo quer e precisa deixar a sua marca, sinalizar sua existência, dar seu recado ou apenas cores à vida de alguém. O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg é um famoso militante contra o movimento do graffiti na cidade e tem recebido críticas de artistas de rua por sua intolerância ao movimento, mesmo quando feito em locais adequados. Eu, particularmente, me impressiono ao ver alguns graffitis por aqui e acho que quando se respeita a localização e não há nenhuma associação com vandalismo, graffiti é bonito sim. É forte, traz uma mensagem, e muitas vezes é a forma primária de contato de jovens com a arte. E nenhum tipo de arte é capaz de criar tanta mobilização e ativismo social do que a arte da rua. Para mais informações sobre essa arte em Brasília, visitem a galeria do Renato Moll: www.flickr.com/photos/renatomoll/ e a galeria de arte de rua de Brasília www.flickr.com/groups/brasilia-df-graffiti/ 

Street Art com o 5Pointz ao fundo. Foto: Guillaume Haccard
Em Nova York, o lugar mais legendário para se conhecer a arte de rua local é o famoso 5Pointz, em Long Island City, Queens. Conhecido como um Centro de Arte Aerosol, o local é uma galeria de arte ao ar livre e é considerado a Meca do Grafitti Mundial, onde artistas do mundo inteiro deixam sua arte pelos mais de 18,000 metros quadrados de muros de uma fábrica desativada. Para deixar seu registro em aerosol pelas galerias do 5Pointz, basta agendar via e-mail com a organização do local, através da página http://5ptz.com/graff/about/. Além do 5Pointz, Nova York também é a sede da primeira agência turística de arte de rua da América do Norte, a Graff Tours. Eles são especializados em graffiti e arte de rua em geral e oferecem passeios individuais e em grupo, públicos e privados, mapas e workshops sobre graffiti em Nova York, sempre com os melhores profissionais da área. Para mais informações: www.grafftours.com

Antes e depois. Linda intervenção em NYC do famoso artista e ativista inglês Banksy. Pintaram tudo de cinza. Foto: Nina Raquel. Para mais informações sobre o artista: www.banksy.co.uk

Keith Haring e seu amor público por Nova York

Sem-título, de 1987. Fonte: www.haring.com
A arte de rua não se limita ao graffiti, e quem comprova isso é Keith Haring, um dos maiores artistas de rua e do movimento de pop art mundial.  Haring começou sua carreira em Nova York e se tornou um dos ícones de um movimento que pregava a propagação da arte fora das galerias e museus. Sua arte partia do princípio da independência fundamental do artista, e ele dedicou sua carreira em criar um arte verdadeiramente pública. Sua carreira começou com desenhos feitos com giz branco sobre cartazes e painéis pelas estações de metrô de Nova York. Entre 1980 e 1985, Haring produziu centenas de desenhos públicos com suas famosas linhas rítmicas. Esse fluxo contínuo de imagens desenhadas em estilo único começaram a ficar populares entre os passageiros dos metrôs, que com frequência paravam para interarir com Haring quando o encontravam desenhando pelas estações. O metrô se tornou, segundo Haring " um laboratório" para trabalhar suas idéias. Durante sua carreira, Haring dedicou grande parte do seu tempo aos seus trabalhos públicos, quase sempre com mensagems de mobilização social, principalmente contra o uso de drogas. Muitas das suas artes foram criadas em hospitais, creches e orfanatos de Nova York. O famoso mural contra o uso de crack na cidade "crack is wack', ou seja, "crack é horrível" de 1986 se tornou um ponto de referência na FDR Drive, um rua movimentada de Nova York. Em 1988 Keith foi diagnosticado como portador do HIV/Aids e em 1989 criou a Fundação Keith Haring, para ajudar crianças carentes e trabalhar com a conscientização e prevenção do HIV/Aids. Keith ajudava os Nova-Iorquinos em situação de risco enquanto ainda tentava se ajudar. Tornou-se um grande ativista social e faleceu em 1990, com 31 anos. Nova York não se cansa de homenageá-lo e atualmente suas obras encontram-se em exposição no Museu do Brooklyn. Para descobrir Keith Haring pelas ruas de Nova York: http://www.fatcap.com/artist/keith-haring.html

Street Art na Avenida Amsterdam com a Rua 90, Nova York. Foto: Guillaume Haccard
Todo mundo que tem um pouco de arte em si quer intervir, seja na rua, em um papel, em alguém, ou em si mesmo. A arte de rua de Nova York, como em Brasília, facilita essa intervenção. Quando procuramos por uma mensagem ou um desenho pela paisagem estamos procurando identificação, a premissa básica que une dois artistas, dois observadores, duas pessoas. Olhemos com cuidado pelas ruas da nossa cidade, observemos os detalhes. É fácil estar atento quando se está em um museu, mas ativar o olhar do observador quando todo o resto está distraído com a correria diária é para poucos. Olhemos atentos aos artistas que decidiram ser públicos, por opção ou falta dela, e exercem o desprendimento de nos doar um pouco de arte para qualquer um que passe e queira vê-la. 

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